Ursinhos



segunda-feira, 23 de maio de 2011

A criança de seis anos


A criança de seis anos 

 Bibliografia: GESELL, Arnold. A criança dos 5 aos 10 anos. Publicações Dom Quixote. Editora Império. Lisboa/Portugual. 1977.

Segundo Geisell, as características da criança não devem ser vistas como normas rígidas ou modelos. São apenas exemplos de como a criança nessa idade pode se comportar. “Cada criança tem um esquema pessoal de desenvolvimento, que é único”.

Seis anos é uma idade de transição, que começa aos cinco anos e meio. A criança sofre modificações fundamentais, somáticas, químicas e psicológicas. Começam a cair os dentes de leite, romper os primeiros molares permanentes. Sentem-se orgulhosas de perder os dentes e acreditam nas fadas e nas brincadeiras que se fazem com eles. Ela não é uma criança de cinco anos crescida e melhor, é uma criança diferente, uma criança em transformação. Transformação essa que se equivale à erupção de seus molares. Nela surgem novas propensões, impulsos, sentimentos e ações, devido a modificações profundas que estão ocorrendo no desenvolvimento do seu sistema nervoso. Submetida a mais leve tensão, essa criança pode apresentar comportamentos extremos. Ela reage a tudo com muita energia. Chora muito ou ri muito e muda de um para o outro, voltando para o primeiro. Eu te amo e eu te odeio andam cirandando de braços dados nessa fase. É enfim, uma criança impulsiva, diferente, volúvel, dogmática, compulsiva e excitável. É espontânea e precisa de orientação.

Toda escolha é muito difícil e mesmo depois de feita, não é definitiva. Ela manifesta bipolaridades de maneiras muito diversas, saltando de um sentimento, ou ação para o oposto rapidamente. Parece mesmo que para definir o que não quer, ou não pode fazer, precisa antes fazê-lo.

Suas decisões se baseiam no “código de Talião” – “Olho por olho, dente por dente!”. Você me ajuda e eu te ajudo, você me bate e eu te bato. Simplesmente assim. A nós adultos, cabe lhe desencorajar as atitudes irresponsáveis, reconhecendo que esses impulsos agressivos são experiências novas para ela. Podemos dizer-lhe que está agindo mal, mas não adianta perguntar-lhe porque fez isso ou aquilo, pois ela não saberá responder. Ela precisa de orientação e do comando da autoridade adulta.

Quer sempre ser a primeira, quer sempre ganhar e quer que gostemos mais dela do que das outras crianças. Suas maneiras são geralmente breves: “Obrigado”, ou “Dá licença”, mas nada de formalidades, pois ela não consegue abstraí-las.

Na escrita, tende a fazer as letras viradas. Os pares são seus preferidos, dois é melhor do que três. Brinca melhor com um colega do que com dois.

É nessa idade, de seis anos, que a criança mostra-se mais interessada em festas. O que não significa que se comporte nelas como os adultos esperam.

A professora que a entende bem, interpretando sua energia como sinal de um processo de crescimento, pode orientá-la melhor, fazendo da sala de aula um ambiente harmonioso, onde a criança se sentirá segura.

A dramatização que a criança faz é um mecanismo natural, perante o qual a criança organizar seus sentimentos e pensamentos. Ela está na idade do concreto, identifica-se com tudo o que está ao seu redor, com as figuras e letras, com os números e sente necessidade de projetar suas atitudes mentais e motoras em situações de sua vida cotidiana. A escola precisa, portanto, favorecer-lhe a organização simultânea de suas emoções e aprendizado. Essa criança não aprende decorando, mas participando de atividades criadoras. Assim, ela gosta de jogos representativos, dramatizações (que não são meras pecinhas de teatro adaptadas para sua idade), imitações, desenhos e montagens. Sua mente ainda não está preparada para o ensino formal da leitura e da escrita, nem da matemática. Essas matérias precisam lhe parecer vivas, associadas com criatividade e experiências motoras vividas.

Uma professora cordial lhe dará confiança no mundo. A criança de seis anos gosta de rotinas sociais, gosta de ritos e convenções, em cuja repetição diária possa confiar, podendo até demonstrar desgosto se a professora mudar o jeito de prender o cabelo. Pode ser que, por fazer constantes descobertas, anseie por ter alguns pontos fixos em sua mente.

Ela está se ajustando em dois mundos, o de casa e o da escola. A transição do mundo familiar para o escolar é tão sério que pode chegar a provocar verdadeiras cólicas e reações emocionais sérias. Deixa a mãe na porta da escola, um conversa da mãe com a professora, a troca de professores, uma visita inesperada da mãe fazem sofrer as crianças, ainda mais se forem imaturas e sensíveis. Se a professora tem personalidade seca e severa, se tem métodos disciplinares e pedagógicos rígidos e dão importância demais ao ensino acadêmico, a competição e aos resultados dos alunos, só atrapalhará a vida desses pequenos.

FONTE: http://abcdaproerika.blogspot.com/

terça-feira, 17 de maio de 2011

Limites sem trauma

Limites, sim ou não?

Antigamente, ninguém sequer discutia o assunto.

Criança não sabia e, portanto, precisava aprender. E nós, adultos, tínhamos de ensinar. De maneira que, por exemplo, quando o menino fazia algo errado, respondia mal à vovó, agredia um coleguinha ou não queria fazer o "dever de casa" os pais não tinham dúvidas — agiam, corrigiam, "davam castigo" — muitos até batiam!!! 
 Com as mudanças ocorridas durante o século XX, tanto no campo das relações humanas como no da educação, as pessoas foram aprendendo a respeitar as crianças, entendendo que elas têm, sim, querer, gostos, aptidões próprias e até indisposições passageiras — exa­tamente como nós, adultos.
Como saber a hora de dizer sim e a hora de dizer não? Aliás, perguntam-se, aflitos, muitos pais, há, de acordo com essas novas teorias, realmente uma hora para dizer não? Negar alguma coisa para os filhos parece um crime, um verdadeiro pecado atualmente, ou, no mínimo, um ato autoritário, um modelo antiquado de educar. Afinal, tantas obras publicadas indicam tudo que não se deve fazer e tão poucas oferecem realmente uma diretriz para clarear o caminho de quem quer bem orientar os filhos...
Para possibilitar o surgimento desse ser humano mara­vilhoso é necessário que os pais tenham certeza de uma coisa: dar limites é importante. Não pode haver dúvidas quanto a isso. Antes de começar é preciso pensar — e decidir.
É fundamental acreditar que dar limites aos filhos é ini­ciar o processo de compreensão e apreensão do outro (atualmente muita gente acredita que o limite provoca necessariamente um trauma psicológico e, em conse­qüência, acaba abrindo mão desse elemento fundamen­ta] na educação). Ninguém pode respeitar seus seme­lhantes se não aprender quais são os seus limites — e isso inclui compreender que nem sempre se pode fa­zer tudo que se deseja na vida. É necessário que a criança interiorize a idéia de que poderá fazer muitas, milhares, a maioria das coisas que deseja — mas nem tudo e nem sempre. Essa diferença pode parecer sutil, mas é fun­damental. Entre satisfazer o próprio desejo e pensar no direito do outro, muitos tendem a preferir satisfazer o próprio desejo, ainda que, por vezes, prejudique alguém. Porque, afinal, nem sempre o que se deseja é útil e cor­reto socialmente, querem ver?
  Pode morder e arrancar os cabelos do amiguinho só porque ele pegou seu brinquedo favori­to? Não, é claro.
Mas só vai responder "não, não pode não" quem desde pequenino tiver aprendido que muitas coisas podem, e muitas outras não podem e não devem ser feitas, mes­mo que dêem muita vontade ou prazer. E tudo bem. So­mos felizes assim, respeitando e tendo algumas regras básicas na vida. Especialmente se aprendemos a amar o outro e não apenas a nós próprios.
E, nós, os pais, queremos muito ver nossos filhos cres­cendo no rumo da felicidade, não queremos? Então te­mos de ajudá-los nisso. Porque ninguém, ao vir ao mun­do, sabe o que é certo e o que é errado. O ser humano, ao nascer, não tem ainda uma ética definida. E somos nós, especialmente nós, os pais, que temos esta tarefa fundamental e espetacular — passar para as novas ge­rações esses conceitos tão importantes e que conferem ao homem sua humanidade.
Então, se estamos todos de acordo, mãos à obra! Vai va­ler a pena!

 Dar limites é...

ensinar que os direitos são iguais para todos;
  ensinar que existem OUTRAS pessoas no mundo;
  fazer a criança compreender que seus direitos acabam onde começam os direitos dos outros;
  dizer "sim" sempre que possível e "não" sempre que necessário;
  só dizer "não" aos filhos quando houver uma razão concreta;
  mostrar que muitas coisas podem ser feitas e outras não podem ser feitas;
  fazer a criança ver o mundo com uma conotação so­cial (conviver) e não apenas psicológica (o meu dese­jo e o meu prazer são as únicas coisas que contam);
  ensinar a tolerar pequenas frustrações no presente pa­ra que, no futuro, os problemas da vida possam ser su­perados com equilíbrio e maturidade (a criança que hoje aprendeu a esperar sua vez de ser servida à mesa amanhã não considerará um insulto pessoal esperar a vez na fila do cinema ou aguardar três ou quatro dias até que um chefe dê um parecer sobre sua promoção);
  desenvolver a capacidade de adiar satisfação (se não conseguir emprego hoje, continuará a lutar sem desistir ou, caso não tenha desenvolvido esta habilidade, agirá de forma insensata e desequilibrada, partindo, por exemplo, para a marginalidade, o alcoolismo ou a depressão);
evitar que seu filho cresça achando que todos no mun­do têm de satisfazer seus mínimos desejos e, se tal não ocorrer (o que é o mais provável), não conseguir lidar bem com a menor contrariedade, tornando-se, aí sim, frustrado, amargo ou, pior, desequilibrado emocional-mente;
saber discernir entre o que é uma necessidade dos fi­lhos e o que é apenas desejo;
compreender que direito à privacidade não significa falta de cuidado, descaso, falta de acompanhamento e supervisão às atividades e atitudes dos filhos, dentro e fora de casa;
ensinar que a cada direito corresponde um dever e, principalmente...
dar o exemplo (quem quer ter filhos que respeitem a lei e os homens tem de viver seu dia-a-dia dentro des­ses mesmos princípios — ainda que a sociedade não tenha apenas indivíduos que agem dessa forma)!!!!

Dar limites não é... 

• bater nos filhos para que eles se comportem (quando se fala em limites, muitas pessoas pensam que signifi­ca aprovação para dar palmadinhas, bater ou até es­pancar); 
   fazer só o que vocês, pai ou mãe, querem ou estão com vontade de fazer;
ser autoritário (dar ordens sem explicar o porquê, agir de acordo apenas com seu próprio interesse, da forma que lhe aprouver, mesmo que a cada dia sua vontade seja inteiramente oposta à do outro dia, por exemplo);
  deixar de explicar o "porquê" das coisas, apenas impondo a "lei do mais forte";
  gritar com as crianças para ser atendido;
  deixar de atender às necessidades reais (fome, sede, segurança, afeto, interesse) dos filhos, porque você ho­je está cansado;
  invadir a privacidade a que todo ser humano tem direito;
  provocar traumas emocionais (toda criança tem capa­cidade de compreender um "não" sem ficar com pro­blemas, desde que, evidentemente, este "não" tenha razão de ser e não seja acompanhado de agressões físicas ou morais. O que provoca traumas e problemas emocionais é, em primeiro lugar, a falta de amor e carinho, seguida de injustiça, violência física (bater nos filhos é uma forma comum de violência física, que, em geral, começa com a palmadinha leve no bumbum), humilhações e desrespeito à criança.

Dar limites não é ser autoritário...

Algumas pessoas acham que dar limites aos filhos é uma questão de opção, mas essas pessoas não sabem que há uma progressão de problemas que podem derivar da fal­ta de limites.
De maneira geral, a criança não aceita logo nem as expli­cações que a nós, adultos, nos parecem as mais claras, límpidas e, portanto, as mais simples de serem atendi­das. Mas, como nem o que é mais límpido e claro é aten­dido imediatamente — muito pelo contrário, às vezes você repete anos a fio um mesmo e simples objetivo até alcançá-lo —, o que ocorre é que, ao ouvir falar em li­mites, muita gente interpreta logo como licença para xercer uma postura autoritária, de controle total ou até lência... Realmente é difícil saber quando acaba a au­toridade e quando começa o autoritarismo.

O que pode acontecer quando não se dá limite

A criança que não aprende a ter limites para o seu que­rer, para os seus desejos e vontades, que tudo quer e tu­do pode, tende a desenvolver um quadro de dificuldades que se vai instalando passo a passo, como se segue:

1ª ETAPA

Descontrole emocional, histeria, ataques de raiva
2ª ETAPA

 Dificuldade crescente de aceitação de limites
3ª ETAPA
Distúrbios de conduta, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, excitabilidade, baixo rendimento
4ª ETAPA
Agressões físicas se contrariado, descontrole, problemas de conduta, problemas psiquiátricos nos casos em que há predisposição
  Por que não bater

  porque bater nada tem a ver com ensinar a ter limites; na verdade, são atitudes até opostas.  
Quem bate dá uma verdadeira aula de falta de limites próprios e até de covardia;
  porque existem formas infinitamente mais eficientes e humanas de manter a disciplina, com mensagens bem mais positivas do que a agressão física;
   porque, com o tempo, a famosa "palmadinha leve no bumbum", que tanta gente defende como inofensiva, deixa de surtir efeito e acaba se transformando em palmadas cada vez mais fortes e, ao final, em verdadei­ras surras;
   porque só bate quem não age antes de "perder a ca­beça";
   porque, mesmo obedecendo, a criança não aprende verdadeiramente, apenas deixa de fazer certas coisas por medo de apanhar;
   porque bater não resolve os problemas da relação, apenas encobre os conflitos e, ainda assim, por pouco tempo;
   porque depois, quando os pais se acalmam, sentem-se culpados e tendem a "afrouxar" de novo os limites, para aplacar a sensação aflitiva de culpa, perpetuando a situação de conflito;
   porque bater é assinar seu próprio atestado de fracasso como educador.

O que a palmada realmente ensina é...

   a temer o maior, o mais forte ou o mais poderoso;
   a perda de interesse pela atividade que estava desen­volvendo no momento em que apanhou;
   que o comportamento agressivo é válido;
  que a agressão física é uma atitude normal e praticável (afinal se papai e mamãe estão fazendo...);
   que a força bruta é mais importante que a razão e o diálogo;
   que os pais, figuras de quem a criança espera proteção e amparo, não são confiáveis;
   que ocultar ou omitir fatos pode dar bons resultados e evitar umas "boas palmadas" — afinal, quando os pais não ficam sabendo dos erros ou faltas dos filhos, não batem;
   que de quem se espera amor podem vir pancada e agressão.
Mas como disciplinar sem bater?
  Premiando ou recompensando o bom comportamento 
Entendendo que premiar não é obrigatoriamente "dar coisas materiais" 
Fazendo com que a criança assuma as conseqüências dos seus atos (positivos ou negativos)
Mas, se toda conversa, explicação e diálogo não fun­cionarem e as atitudes inadequadas continuarem, en­tão será preciso que a criança compreenda que ela é responsável pelos seus atos e também, evidentemen­te, pelas suas conseqüências.

 Zaguary, Tania,1949-
Limites sem trauma/Tania Zaguary.
55ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2003.
(Construindo Cidadãos)